Uma coisa Juvenal descobriu tarde, quando pensava encerrada a época das descobertas importantes: Ofélia gostava de ser triste. E gostava de ser triste porque não conhecia outra coisa que fosse a tristeza. Ela afugentava da vida o que a pudesse fazer feliz. A princípio Juvenal pensou que a tristeza de Ofélia se originava na infância difícil. A mãe era uma mulher estranha que se apaixonou por um domador de circo, abandonou o marido e vendeu a filha para a comadre por dois vestidos de chita e uma caixa de pó-de-arroz Cashmere Bouquet. Em decorrência, o pai bebeu até morrer. Ofélia soube que a mãe cuidou dos filhos do domador. E quando ficou velha, enlouqueceu e morreu falando o nome de Ofélia. Às vezes uivava feito loba, chamando a filha em noites de lua cheia. Ofélia soube disso porque o domador contou para a comadre, no dia em que foi avisar que a mulher morreu. A nova mãe de Ofélia, a comadre, criou-a como se cria pessoas a quem não se ama. O homem é capaz de amar os animais, mas não ama o semelhante com a mesma intensidade. É claro que neste vasto mundo existem as exceções. No caso de Ofélia, ela foi criada com misto de piedade e sadismo.
Aos dezoito anos, Ofélia chegou a uma conclusão curiosa:
“As prostitutas são felizes.”