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Edilson Pereira - Escritor e Dramaturgo
Crônicas

Batuta vai molhar o biscoito

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Crente que estava abafando, Dudu Dantas, o Amigo da Onça, se aproximou de Batuta com o intuito de charlar, porque o outro com pinta de Tony Curtis, levava lero-lero com Lurdinha, uma garota do barulho. Vocês entenderam: um broto legal. Dudu exibiu o seu muque como fosse coqueluche.

Batuta disse:

“Sossega leão! Pra mim isso é café pequeno. Uma pinóia.”

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31 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

Uma manhã de frio espetacular

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Não tenho a menor ideia porque ele se chama Kung-Fu. Ele não é chinês, é negro, alto, não luta coisa alguma e além de tudo é maluco. Um maluco simpático, inofensivo e esportivo. Está sempre andando pela ciclovia ou na pista do parque São Lourenço, algumas vezes ele corre dando a entender que faz Cooper, embora todos saibam que esta é apenas mais uma de suas manias para, provavelmente, passar o tempo. Kung-Fu me conhece, eu o conheço, mas conversamos raramente. No entanto, sempre que me vê ele me cumprimenta por uma razão muito simples: ele cumprimenta a todos com um enorme sorriso simpático. Às vezes ele desaparece por meses, reaparece e desaparece. Na manhã fria de ontem, todo mundo agasalhado, encontrei Kung Fu no ponto de ônibus na frente do Centro de Criatividade do São Lourenço. Estava bem agasalhado, com luvas e touca negras e soltava vapores de ar pela boca. Estava com óculos escuros e fone de ouvido, certamente curtindo um som. O frio deixou-o de bom humor. Ele esperava o Interbairros II. Quando eu me aproximei, ele tirou o fone de ouvido e os óculos e disse em tom solene:

“Bom dia. Mas este frio está realmente espetacular, não é mesmo?”

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30 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

Você já conferiu o seu eletromagneto?

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Na tarde de ontem fui levar dois quadros na molduraria do Brixi na Rua Paula Gomes, no centro de Curitiba. E depois que saí encontrei na esquina um sujeito. Ele disse que queria falar comigo a respeito de um assunto transcendental. Ele era careca, cabeçudo e com um bigode que parecia ter emprestado de Friedrich Wilhelm Nietzsche. Usava luvas pretas com furos para as pontas dos dedos ficarem de fora. Estava com uma pasta cheia de recortes de velhos jornais. Ele disse que se chamava Hector Bustos Navarrete e era discípulo do professor James Anderson, que nos anos 30 praticava astrologia científica. Pelo que entendi, ele também era astrólogo e queria falar sobre eletricidade periférica temporal. Perguntou se eu conhecia o assunto. Nunca ouvi falar na coisa. Mas os sucessivos reajustes da conta de energia elétrica colocam a eletricidade em evidência. Não se pode deixar um tema assim sem mais nem menos. E disse a ele para falar sobre o negócio que eu era todo ouvidos.

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29 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

O importante mesmo é ser feliz

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Billy Balofo chegou à Praça do Gaúcho com cara de felicidade e skate embaixo do braço. Os caras acharam que finalmente Billy aprendeu alguma coisa além de levar tombo. A cara de felicidade não podia ser de graça.

John Lennon perguntou:

“E aí Billy, agora vai?”

Billy respondeu:

“Só vai, brou.”

Mas Billy entrou na pista e se ralou. Era o velho Billy de sempre. Billy Balofo tinha skate bacana, roupa bacana, mas em matéria de manobra nunca foi cobra.

John Lennon perguntou:

“Billy, você já tentou ir num psiquiatra?”

Billy não gostou da pergunta:

“Por que brou?”

John Lennon respondeu:

“Cê deve ter problema na cabeça, mano. Tem coisa simples que você complica. E nunca aprende.”

Billy pensou em engrossar e dizer que John Lennon devia levar o pai dele num psiquiatra e de quebra a mãe para um bordel, mas pegou leve. O bicho podia pegar. O velho colocou aquele nome achando que John Lennon ia virar cantor e ele virou apenas mais um John Lennon entre as centenas de outros por aí, como existe um monte de Elvis Presley que não toca nem trombeta e não bate nem na tabuleta. Sem contar que a turma falava que a mãe de Lennon dava mole pra muito amigo dele. Se Lennon soubesse, o bicho ia pegar num grau muito forte. Billy botou o skate embaixo do braço, não disse nada. Não ia perder amigo por causa de um psiquiatra que ele nem conhecia. Ele tava de boa porque sabia que nem todo cara bacana era bom no skate e nem todo cara bom no skate era bom da cabeça. Além disso, mano, ele estava feliz. Felicidade que encabulou John Lennon.

Lennon disse:

“Cê tá com problema, Billy.”

Billy Balofo estava com baita sorriso na cara. Explicou o motivo da felicidade:

“Minha mãe botou o Periquito pra fora.”

E antes que Lennon tirasse onda ele explicou que Periquito era o namorado da Marlene, mãe de Billy. Marlene quebrou a cara com uns quatro sujeitos depois que se separou de Ataíde, pai de Billy. O último foi o Periquito. E parece que agora jogou a toalha.

Ela disse pro filho:

“Homem nenhum presta.”

Marlene prometeu que ia pegar leve de agora em diante. Com papo de que não podia viver sem sexo, jogava fora dinheiro que ganhava dando duro no trampo e só levava tranqueira pra casa e pra cama. Os caras que ela botava em casa eram um pior que outro. Tudo isso acabou. Billy estava com cara de quem fez um 540 flip na cara de John Lennon. E arrematou:

“Aprendi que é possível ser feliz sem ter feito nada importante na vida.”

E voltou pra pista pra levar tombo.

 

Publicado na Tribuna do Paraná no dia 9 de outubro de 2015.

28 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

Que porco matou Zbigniew Kozarowski?

Algumas coisas estranhas acontecem na vida de Evandro. Ele se separou de Maria Cláudia e se casou com Maria Antonieta, cuja família tem talento para produzir histórias bizarras. E no meio disso Evandro se mudou para Guaratuba, embora continue a trabalhar na capital, onde fica de terça até o fim de sexta-feira, quando vai embora para Rio da Praia, nome com o qual a comunidade de Coroados também é conhecida. A segunda mulher é bonita e descende de poloneses – um ramo Kozarowski – embora o sobrenome seja Miranda. O pai dela era Zbigniew Kozarowski. A mãe Edilamar Miranda, mineira. Começa aí: a mãe morreu de Apocalipse e bug do milênio. A mulher se entupiu com o livro do Apocalipse e pegou trauma do fim do mundo. A coisa piorou quando surgiu o bug do milênio. O certo é que pouco antes da meia-noite de 31 de dezembro de 1999, ela não suportou a pressão da passagem de um milênio para o outro e teve infarto. Morreu. Se esperasse alguns minutos, sobreviveria porque ia constatar que o mundo não acabou e que o bug do milênio foi traque que pifou.

A morte da mãe de Maria Antonieta resultou em chacota na família, até a morte do Sr. Zbigniew Kozarowski, ainda mais estranha. Depois dela a família passou encarar a morte com sobriedade. Ainda assim sobraram dúvidas. O cunhado de Evandro chegou em Guaratuba e perguntou para a irmã:

“Que porco matou Zbigniew Kozarowski?”

No começo Evandro pensou que fosse desentendimento entre homens rudes, mas a mulher contou que não era assassino que o irmão chamava de porco.

“Foi um porco mesmo!”

Quando soube disso, Evandro teve calafrios. Desde que leu A Revolução dos Bichos ele pegou medo de porcos – ainda mais de porcos rebeldes ou assassinos. Ainda que no caso do pai de Maria Antonieta, os porcos tivessem um pouco de razão. Mas no livro eles também tinham. O que aconteceu foi o seguinte: Kozarowski foi morar numa chácara em São Mateus do Sul onde plantava milho, criava porcos e tinha interesse pela vida no campo e pela agricultura. Mas ele começou a beber vodka para espantar a solidão. Ele bebia de manhã à noite. O problema ficou grave quando deixou de dar comida aos porcos.

Maria Antonieta contou:

“Os porcos ficavam dois dias sem comer. E faziam um barulho infernal.”

Uma noite os porcos famintos se revoltaram e começaram a se jogar contra a cerca do chiqueiro. O velho resolveu mostrar quem mandava na chácara. Ele foi ao chiqueiro com um pedaço de pau, para dar corretivo nos porcos famintos.

“Foi o seu erro.”

Zbigniew Kozarowski estava bêbado e ao entrar no chiqueiro tropeçou, caiu e foi atacado pelo líder dos porcos.

Maria Antonieta disse:

“Eu não sei que porco o matou, mas o líder avançou e os outros foram atrás. Em poucos minutos os ossos ficaram limpos e brancos.”

Depois de ouvir esta história, Evandro não conseguiu dormir à noite, só de pensar na cena do sogro devorado pelos porcos.

“Eu tenho pesadelos e nem como mais costelinha de porco com medo de vingança.”

Os problemas ficaram maiores. Evandro contou como tivesse inimigos em casa:

“Maria Antonieta vendeu os porcos rebeldes do pai para o matadouro, mas levou os porcos pequenos para Guaratuba. Eles crescem.”

Ele sussurrou como contasse um crime:

“Ela começou a beber. Vodka. Pode?”

Agora Evandro teme chegar em Guaratuba e encontrar a mulher devorada por um bando de porcos famintos, como ocorreu ao pai dela. E encontrar a sua casa dominada por porcos como aconteceu no livro de George Orwell.

Publicado na Tribuna do Paraná no dia 27 de novembro de 2013.

27 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

O colecionador de galinhas de raça

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Tudo começou por frescura. Geraldinho foi à chácara de um amigo em Quatro Barras e viu uma galinha diferente. Ele perguntou que bicho era aquele e o dono da chácara disse cheio de pompa e circunstância que era galinha de raça.

Geraldinho disse:

“Ué, nem sabia que tinha galinha de raça! Eu pensei que existissem apenas cachorros de raça.”

O que era bobagem porque tirando minhoca e carrapato, tem raça diferente para tudo que é tipo de animal, correndo o risco de ter raça diferente para minhoca e carrapato. O dono da chácara tirou onda pra cima de Geraldinho que baixou a bola e perguntou onde o cara comprou a galinha de raça. Na segunda-feira ele foi lá e comprou uma galinha igual e deixou no fundo do quintal no Boa Vista, quintal grande e vistoso. A galinha era uma autêntica Sussex que virou sucesso na vizinhança e animou Geraldinho a comprar outras galinhas de raça onde achava. Ele comprou Orpington, Wyandotte, Rhode Island Red, Plymouth, New Hampshire, Polonesa, Araucana, Jersey Gigante e muitas outras. Os vizinhos e amigos ficavam impressionados com o plantel de galináceos exóticos. Geraldinho ficou viciado em comprar galinha diferente. Quando um amigo viajava ao exterior ele pedia para trazer galinha de raça local. Mandava os nomes. Claro que os amigos voltavam com boa desculpa e sem galinha porque ninguém era maluco de ir ao exterior e passar por aeroportos e hotéis com galinha embaixo do braço para atender o desejo doentio de Geraldinho. O certo era que a galinhada bonita, de raça e diferente chamou atenção e os moços da televisão ficaram sabendo e baixaram na casa de Geraldinho para fazer reportagem. Geraldinho ficou famoso da noite para o dia por conta das galinhas. Deu entrevista em rede nacional para duas emissoras de televisão, para o Globo Rural, para o Estadão e para o jornal O Globo. Ele ficou famoso até um dia os jornais e televisões se enfararem do assunto, de Geraldinho e das galinhas e esquecerem todos eles, relegando-os ao completo anonimato. Ser destronado da fama de uma hora para outra deixou Geraldinho rancoroso. Ele não viu mais motivo em colecionar galinhas e tampouco em manter o plantel no fundo do quintal. A solução que encontrou foi comer uma por uma. Até não restar nenhuma. E assim a coleção de galinhas do Geraldinho desapareceu. No papo.

Publicado na Tribuna do Paraná no dia 15 de junho de 2015.

26 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

O cego que roubava sambas

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Houve um tempo em que samba não tinha dono. Todo mundo cantava e todo mundo ficava feliz. Mas aí veio a era do gramofone e samba começou a dar dinheiro. Há um certo consenso de que o primeiro samba gravado, “Pelo telefone”, foi feito por Sinhô e apropriado por Donga que o registrou como seu em 1917. Depois desta, Sinhô, que tinha fama de ser farrista, também foi acusado de passar a mão em sambas alheios. Para se defender da fama de ladrão de sambas, ele criou a célebre frase:

“Samba é que nem passarinho, é de quem pegar primeiro.”

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25 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

O cara que era o Rei do Alho

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Tem fortunas que nascem de negócios para os quais ninguém dá valor, como sucata, latas vazias de cerveja e refrigerante, água de coco e placas de publicidade em estádios de futebol, para ficar em alguns exemplos. Os caras apostam num negócio destes, às vezes sem convicção, e quando vão ver, tem casa em Miami, apartamento em Nova York, sem contar a indefectível conta bancária na Suíça, que milionário brasileiro adora enganar o Fisco, caso contrário nunca seria milionário, porque o Fisco brasileiro é faminto e come tudo.

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24 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

A última batalha de Napoleão

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Era o último ônibus da noite. A gorda entrou e o cobrador olhou e pensou:

“Será que passa?”

A dona pagou, entrou na catraca e fez jogo de corpo. Ela nem fez cara feia, devia estar acostumada com a manobra. Passou e sentou no primeiro banco do lado direito, ao lado do cobrador. Napoleão olhava pela janela algumas garotas a passo rápido na calçada. Olhar cansado, chapéu marrom escuro, gravata surrada e cabelos e grisalhos. Quando a gorda sentou ele sentiu a pressão. Para a gorda acomodar no banco duplo e não cair no corredor teria que fazer com Napoleão o que fez com a catraca. Botar pressão. A catraca resistiu, mas Napoleão ficou espremido entre a gorda e a janela. Ele não era magro e a dona era gorda, ninguém pensou nisso quando planejaram os dois bancos. O celular da gorda tocou e ela atendeu:

“Alô? Fala pra ela esperar que eu tô no ônibus.”

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23 de August de 2016by edilsonpereira
Crônicas

A bela que decapitava homens maus

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O velho abriu os braços e disse que na sua juventude aconteceu um caso extraordinário em Brumado no sudoeste da Bahia. Foi por volta de 1920. Era o caso de Jandira, a viúva bonita, cujo marido Celestino foi morto durante entrevero com os mocós do coronel Justino Capistrano de Oliveira, de Rio de Contas.

O velho disse:

“Naquele tempo, era como no tempo dos reis. Cada cidade tinha um coronel. E cada coronel tinha um exército. O pessoal da capital não aparecia no sertão.”

Ele explicou:

“O nome de mocós para os capangas do coronel Justino era porque ficavam escondidos na fazenda do coronel e só apareciam quando chamados.”

 Aconteceu, porém, de o chefe político de Brumado, para agradar os homens da capital, entrar em desacordo com o coronel Justino e seus aliados na região.

“Para punir o chefe de Brumado, o coronel Justino mandou invadir a cidade. Os homens cercaram Brumado, acamparam ao redor. Os mocós eram chefiados pelo capitão Rufiniano Juvenildo de Alencar, o Cachaço Louco. Homem feio, forte, malvado e devasso. Mais tarado impossível.”

O velho disse:

“Quando esta figura soube que havia viúva bonita na cidade e que o marido foi morto por seus homens, mandou aviso: ele queria desfrutar da viúva, antes de destruir Brumado.”

O velho continuou:

“Todo mundo pensou que Jandira fosse negar, fosse fugir, como a maioria das pessoas. Mas Jandira tomou banho, passou perfume, botou roupa bonita e no começo da noite foi com a empregada Divina Cipriana para o acampamento dos mocós.”

O velho tinha a história fresca na memória:

“Chegando lá, entrou na tenda de Cachaço Louco, enquanto Cipriana ficou do lado de fora.”

Os ouvintes ficavam tensos e esperando exatamente esta parte da história:

“Dentro da tenda fez tudo o que uma vadia sem categoria faz, deixando Cachaço Louco satisfeito e cansado. Quando ele pegou no sono, Jandira chamou Divina Cipriana e com a ajuda da empregada usou a própria peixeira do capitão para decapitar o seu pescoço sem piedade. Eram três horas da madrugada quando deixou a tenda. Os homens do capitão dormiam. Apenas alguns montavam guarda e deixaram a viúva ir embora com a empregada. Nem perguntaram o que havia no embornal que ela carregava. Era a cabeça de Cachaço Louco.”

O velho respirou fundo e disse:

“E daí que assim que amanheceu ela reuniu o pessoal que não fugiu da cidade e disse que matou Cachaço Louco. Colocou a cabeça do capitão na entrada da cidade. E foi para a sua casa. Foi aí que o pessoal que não fugiu da cidade, caiu fora de uma vez e a cidade ficou deserta. Ninguém ia esperar a vingança dos homens de Cachaço Louco.”

Mas os homens de Cachaço Louro quando souberam que o chefe foi degolado, foram tomados de pânico e voltaram para a fazenda do coronel Justino, para narrar ocorrido e esperar uma nova ordem. O coronel ficou ainda mais furioso, reforçou o bando que voltou para destruir Brumado.

“Neste vai e volta, os homens do governo chegaram, tomaram conta da cidade, e quando os mocós apareceram, eles foram derrotados. Morreu jagunço que nem pernilongo no meio de uma nuvem de Detefon. O Coronel Justino nunca mais foi gente no sertão da Bahia. Sua vida foi poupada e ele foi confinado na própria fazenda.”.

O avô disse para o neto que ouviu a narrativa:

“Esta é a história de Jandira, a viúva bonita que decapitava a cabeça dos homens maus”.

O garoto ouviu com desconfiança. Mas nunca teve coragem de perguntar ao avô se realmente a história tinha acontecido, porque quando ele a ouviu isto seria um grande desrespeito. O velho não sabia. Mas ele leu alguma coisa parecida com aquilo na Bíblia. Pensando bem, o garoto achou que tanto a Bíblia quanto o avô estavam certos. A história é que tem a mania de se repetir de vez em quando.

Publicado na Tribuna do Paraná no dia 8 de agosto de 2015.

22 de August de 2016by edilsonpereira
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EDILSON PEREIRA

Edilson Pereira é escritor, dramaturgo e jornalista.

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