Quando o meu pai morreu, a minha mãe ficou triste. Naquele tempo as mulheres ficavam viuvas e ficavam tristes quando perdiam o marido. Rubem Braga era amigo de meu pai e também da família. Ele começou a ir em casa e dizer para a minha mãe não ficar triste porque os homens não morriam, eles viravam outros animais bonitos e meu pai certamente teria se transformado num belo pássaro. Além disso, ele disse que muitos homens eram apaixonados por minha mãe. Como minha mãe não acreditou, ele disse:
“Eu sou apaixonado por você.”
Minha mãe deu um sorriso triste. Ela achou que era mentira. E talvez fosse. Que ele dizesse aquilo para ela ficar menos triste. Mas depois ele disse:
“Por você eu sou capaz de me transformar até em um cavalo branco.”
O sorriso de minha mãe se abriu mais ainda. Aquilo era muito absurdo. Rubem Braga não precisava falar uma bobagem daquela. Ele era um homem alto e forte e estava sério. Ele estava sentado no sofá da sala quando disse. Então ele se levantou, foi até a porta, olhou para a rua e perguntou:
“Você quer ver?”
Ela perguntou:
“Aonde você vai?”
Ele foi embora. Ela pensou que o ofendera por não entender a brincadeira dele. No entanto, alguns minutos depois que ele desapareceu um belo cavalo branco apareceu na rua na frente de casa. Os meninos ficaram alvoroçados. O cavalo branco ficou o dia inteiro para lá e para cá trotando na rua na frente de casa como aqueles cavalos elegantes dos filmes antigos até a noite chegar e ele ir embora. Aquela também foi a também última vez que Rubem Braga foi em casa e a última que minha mãe o viu. Ela sabe que ele não virou um cavalo branco. Mas a imagem que viu foi tão forte que ela ficou em dúvida até o último dia de sua vida se aquele cavalo branco era realmente Rubem Braga.
Da série: As mais belas mentiras que eu ouvi 1