No ano em que Rui Santana nasceu o compositor americano Leroy Anderson emplacou um de seus maiores sucessos. Blue Tango, composto no ano anterior, combinava uma batida latino-americana e melodia sentimental, que lembravam as estripulias musicais inconsequentes dos anos 20. Esta música acompanhou o garoto durante os primeiros vinte e cinco anos de sua vida por uma razão simplória: era tocada nas salas de exibição dos cinemas, antes de começar a sessão. Foi assim no Cine Maringá, Cine Plaza e Cine Paraná, os cinemas em que ele viu a maioria dos filmes que vinham para as cidades do interior em grandes latas com fitas de celuloides, ansiosamente aguardadas. Antes de os filmes começarem, sempre havia um Blue Tango para a plateia, assim como eram inevitáveis os ventiladores e depois o ar condicionado, as conversas sussurradas, os casais de namorados e o inefável perfume de mulheres bonitas na atmosfera em meio ao odor adocicado de balas Chita e 7 Belo. Mas Blue Tango também era música presente nos circos refinados – e eles existiam – que apareciam na cidade, ocasião em que o garoto ia com a tia e a avó. Era, ainda, música presente nos parques de diversões da cidade e nos primeiros bailes em que conseguiu enfiar a fuça, sem, no entanto, dançar com nenhuma das belas mulheres da sociedade maringaense, muito menos com suas filhas. Para ele sobrava apenas os melodiosos acordes de Blue Tango. Nos primeiros anos da feira exposição, ainda ao redor da catedral, era música que desafiava a hegemonia do iê-iê-iê. Sempre havia um lugar na cidade para Blue Tango. Mas Blue Tango foi o segundo tango da cidade.
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