Já me acostumei a ligações estranhas no telefone. Há tempo, uma delas foi bem esquisita: o sujeito flagrou a mulher com o amante e correu para o telefone. Queria que eu fosse lá.
“Para quê?”
“Para esculhambar os dois.”
Não há lógica na esculhambação. E ele teve que esculhambar sozinho. Se bem que neste caso é difícil saber quem esculhambou quem. Ainda mais estranha é a confusão entre o meu número e o de um disque-amizade. Já perdi a conta das ligações desesperadas.
Umas, rápidas:
“Me desculpe, senhor.”
E nem esperam o senhor desculpar. Desligam. Outras são pessoas em busca de alma gêmea ou de ombro amigo. Acreditam que o engano foi obra do destino. E emendam uma ou duas frases para ver o que acontece. Há, claro, desaforos. Dia desses pego o fone e antes de dizer “alô”, recebo de cara:
“Nem precisa dizer nada! Eu só liguei para dizer que você é um cafajeste.”
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